HAI-KAIS EM ESPARRELA

Prolegômenos

Descobri, lendo Millôr Fernandes, que o Hai-Kai - que eu sempre escrevi assim, e que, no Brasil se escreve Hai-Cai - na verdade é Haiku, lá no Japão. Haja paciência, posto que haiku abunda neste país. Grafia por grafia, fiquei com o hai-kai que gosto, mesmo que nada tenha contra o Haiku. É um diminuto poema japonês de 17 sílabas – ensina o pocket “Millôr Hai-Kais”, da L&PM que ganhei do jornalista Carlos Eduardo Behrensdorf – com três versos: dois com cinco sílabas e o do meio, com sete.
A ironia deve ser o seu traço forte. Divirta-se nesta edição alfabética e estapafúrdia. Hai-Kai nessa esparrela, cai.

Abalos
Fujo de sismos,
Mas sou cheio de altos
E de abismos.

Adultério
De calça na mão
Diante de marido...
Não há salvação.

Aeroporto brasileiro
I
Ias e vinhas,
Quando não se voava
Nas entrelinhas.
IIViajar, nem mortas!
Deus escreve nesse céu
Por linhas tortas.

Alcova
I
Que se faça jus...
Pra feia ser bonita,
Apague a luz!
IIIsso é traição!
O marido nos pegar
De calça na mão.
III
Tempo não poupa,
Elas todas preferem
Nos ver de roupa.
IV
Marido rico
Vive mijando fora
Do seu penico.
V
O “Capenga”, zás!!!
Mas ao chegar na frente...
O gozo era atrás.
VI
Fantasie, enfim...
Faça com seu marido,
Pensando em mim.

Banheiro
Sim, triste sina...
Ser poeta da porta
Duma Latrina.

Bichos
Basta de gente!
E dos bichos... Prefiro
Cachorro-quente.

Bissexualismo
O bem-dotado
Sorria das lésbicas...
Pro namorado.

Burrice
Burro com poder
Vira autoridade
Mesmo sem saber.

Capitalismo selvagem
Gangues exultam:
Os seus executivos
Só executam.

Caçada
É enfático
Gosta de caçar Tigre
Asiático.

Catástrofes
I
Eram fêmeas,
Morreram como duas
Torres Gêmeas.
II
Bom de conhaque,
Bush toma o mundo
Pelo Iraque.
III
O céu é saco!
Não cabe Operação
Tapa-buraco.
IV
Ver estrelinhas.
De repente, o Gol cai...
Nas entrelinhas

Censura
Todo sinete
De ditador tem cheiro
De Alcagüete

Chulo
Nada é igual
Ao palavrão: Trocar cocô
Por bolo fecal?!?

Corrupção
I
Já nem suspiro...
Morre um sanguessuga;
Nasce um vampiro.
II
Não foram meias:
O PT trocou cuecas
Por urnas cheias.
III
Não é calote
Lixo só virou luxo
Para Palocci.
IV
Coisa rara,
O PT de cueca
Mostrou a cara.
V
Abençoados
Pastores de dinheiros
Deslavados.
VI
PT não criou
A corrupção geral...
Sistematizou.
VII
Viva sem vintém,
Dinheiro na cueca
Nunca cheira bem!

Dignidade
Tem piedade.
Pisa nos outros, mas com...
Dignidade!

Educação
I
Paciência!
Diploma não garante
Presidência.
II
Ledo engano...
Nem o reitor consegue
Passar de ano.

Ética
Ética, já viu...
É pra quem nos manda pro
PT que pariu!

Etiqueta
I
Por favor, dona...
Onde vai, o caroço
Da azeitona?
II
Ai, Benedito!
Como se esconde o
Tal de palito?!?

Forca
São indecentes!
Forca pra Saddam... que nem
Pro Tiradentes?!?

Futebol
E que se dane
O time que perdeu pro
Velho Zidane.

Governo
I
Governo Lula:
Um corrupto voa,
Outro pula.
II
Nova homilia:
No lugar de esmola,
Bolsa Família.
III
Que triste rima:
Assessor que nem Freud
Nem sai de cima!

Gurias medonhas

Gays pra chuchu:
- Você conhece o Mário?
- Filho do Duduuu?!?

Heroísmo
I
Como Pittbul
Chávez é cocô de cão
Desse Merdosul.
II
Pista profunda:
Covarde, sim... O tiro
Era na bunda!

Ideal
Tinha ideal:
Seus amigos... Bastava
Sentir-se mal.

Jogo do poder
I
Assim me vingo:
De ministro, Zé virou...
Cantor de bingo.
II
Adeus, carestia!
Vou viver com a pensão
Da Anistia.

K & K
Para se ouvir,
Nada melhor do que um
"Kleiton & Kledir".

Ladroeira
A roubalheira
Tem sempre dose certa:
A saideira.

Liberdade
Aí, seus mucréias...
Quero ver prender
Minhas idéias!

Malediscência
- Ah, agora vai!
A “patroa” vai ser mãe...
- E quem é o pai?!?

Mesa de Bar
No bar, contava,
(cara limpa) mentiras
Bem deslavadas.

Mercosul
Ah, Deus é fiel,
Como Lula também é...
Para o Fidel.

Millôr
Millôr dá o tom:
“Beber é mesmo ruim.
Mas é muito bom!”.

Ministério
I
Hora do rango...
Guido Mantega lembra
Último Tango.
II
O ridículo
Ministro não precisa
De currículo.
III
Sem mistérios,
Porém, cercados pelos
Ministérios.

Namoro abusado
Era de fato
A gata do sapateiro:
Gata-Sapato!...

Necropsia
Não tem jeito:
Foi de bala perdida...
Dentro do peito.

Negócios
Entre eles dois,
Seu azar: deu primeiro,
Pra comer depois.

Otimismo
O otimista
Morde-se de inveja
Do pessimista.

Polícia
I
Não é nada, não.
Ao invés da polícia
Chama o ladrão!
II
Oh, gente fina,
Toda autoridade
Tá na esquina.

Política
I
Bush, ó vândalo!
Nada rende mais voto
Que escândalo.
II
Genro - engula...
Você é só o Tarso
Do velho Lula.
III
Só implicância:
É Casa do Povo, ou
De tolerância?!?
IV
Vai acreditar,
Que o PT não rouba,
Nem deixa roubar?!?
V
Tenho certeza,
O PT vai boicotar
Nossa pobreza.

Propaganda
Dor que assola?
Se cura com tango
De Piazzola

Queda
Cada descida
Mostra que todo mundo
Cairá na vida.

Quorum
Precisa Forum
Pra julgar tanta falta
De dequorum?!?

Racismo
Pense direito:
Ser índio é o pior
Do preconceito.

Razão
Sempre tem razão
Quem garante a chave
Do cofre na mão.

Ressurreições
Eu sou a Sorte;
Eu sou as minhas vidas;
E cada morte.

Sacra
Arte sacra é...
Criar o catecismo
Pra pintar a fé.

Sonho guasca
Meus devaneios
Bah, tchê! Se enredaram
Nos seus penteios.

Tempo
Sim, reconhecer...
Que o saber mais puro
É envelhecer.

Traição caseira
Que desaforo!
Corno dum cara que não
Dá no coro.

Trânsito
Eu, na surdina,
Ponho o dedo na mãe,
De quem buzina

Tesão
O que é tesão?
Pouco mais que o mundo
Na palma da mão.

Usucapião
Usucapião:
Viver no palácio
Metendo a mão.

Utilidade
Ah, vida fútil...
Você, ó eleitor é um
Babaca útil.

Vergonha
Para comprovar,
Vergonha é roubar e
Não carregar.

Violência
Depois do soco,
Atirou na boca, a
Bala de côco.

Vício
Com moderação
Cervejinha não faz mal
Mesmo de montão.

Xarope
Com o seu jeito
Xarope e purgante...
Virou efeito.

Y...
Y, de Yvone.
Prenome antigo, com
Ipsilone.

Zorra
E lá no morro
Descobri: a Zorra é
Mulher do Zorro.

Zzzzzzz
Eu telefono:
Alô, alô, querida...
Estou com sono!